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Comparativo

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Noutros tempos a gente confiava,
As casas à segurança da aldrava,
E não temia ser assaltada:
Hoje nem a melhor fechadura,
É bastante forte e segura,
Que não possa ser arrombada.

Ontem havia quem se entregasse,
À terra e nela trabalhasse,
Por uma pequena soldada:
Hoje não há quem dê jeira,
E muito menos quem queira,
A terra ainda que dada.

Ontem amanhava-se a terra
E por ela se fazia guerra.
Tal era a necessidade:
Hoje a terra está abandonada,
Não compensa ser cultivada
E as gentes vão p’rá cidade.

Trabalhava-se duro o dia inteiro,
Por pouco pão ou dinheiro,
E muitos passavam fome:
Hoje quem do trabalho se alheia,
Vive bem e de barriga cheia,
Mas sem merecer o que come.

Os rios tinham água pura,
Que até para beber era segura,
Não se falava em poluição:
Hoje a água que neles corre,
È poluída, o peixe morre
E caminha para a extinção.

Os alimentos tinham fonte natural;
Não se falava em produção industrial
E o povo cultivava o que comia:
Hoje é tudo produzido sob pressão,
Em aviários, viveiros e com ração,
Feita sabe-se lá de que porcaria.

Não havia drogas nem pesticidas,
Nem pragas a ser combatidas,
Tudo era mais natural:
Hoje as moléstias são tantas,
Que poucas são as plantas,
Capazes de resistir ao mal.

Ontem vivia-se em comunidade
Estava viva a fraternidade
Promovia-se a paz e o bem:
Hoje toda a gente é grande;
Só há quem dite e mande
E se julgue mais que ninguém.

O povo descalço e mal vestido
Vivia alegre e divertido
Não faltando nas Romarias:
Hoje que do bom e do melhor tem
Calça, veste e come bem
Anda triste os mais dos dias.

Ontem a palavra era sagrada,
Como se fosse escriturada,
Quem a empenhava cumpria:
Hoje custa pouco a prometer,
E menos a faltar ao dever,
Que ainda há pouco se assumia.

Ontem poucos sabiam ler
E mesmo sem cultura e saber
A sociedade era boa e honesta:
Hoje que abundam os doutores,
Há entre os que se julgam senhores
Muita gente que não presta.


Ticarlos

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